Banco dobrou receita em M&A, adicionou produtos e cobertura com Credit Suisse e teve maior lucro líquido, apesar de encolhimento do mercado
De mudança para a antiga sede do Credit Suisse em São Paulo, o UBS BB fechou o ano em seu maior patamar de receita e lucro líquido desde a junção das operações, em 2020 – mesmo com uma redução no mercado endereçável, com menor volume nos bancos de investimento e assets.
“O crescimento foi de 20% na receita no ano e projetamos um crescimento de 30% em P&L para 2025, sustentado principalmente por dívida local, M&A e dívida internacional”, diz Anderson Britto, head de banco de investimento.
Em dívida local, o IB fez 209 transações e é segundo lugar em dívida internacional, alavancado pela plataforma global de distribuição, que inclui o maior private banking do mundo, com US$ 5,5 trilhões em ativos. Em M&A, considera que, tirando transações proprietárias, carta de crédito e laudo de avaliação, ocupa o primeiro posto em quantidade de transações. A firma tem 11% de market share em comissões em banco de investimento e, na mesa, responde por quase 25% do fluxo estrangeiro.
“É uma combinação muito boa, com a área comercial do BB muito forte, abrindo as portas do Brasil afora que um banco global não conseguiria e, do outro lado, a gente traz 23% do volume estrangeiro para dentro do UBS BB”, diz Daniel Barros, CEO do UBS BB. Os executivos consideram que não é um momento particularmente positivo da instituição no Brasil, mas um retrato também global.
“O UBS fez a reestruturação global em 2011, começou a operar melhor em cost income ratio em 2018 e, nos últimos cinco anos, a ação subiu 167% em dólar. O banco está no seu melhor momento dos últimos 15 anos”, emenda Britto.
Adquirir o Credit Suisse “na estrutura correta, com o preço correto” fez parte desse salto, diz ele. O CS trouxe reforço na cobertura de algumas geografias, como Coreia do Sul, China, Índia e Filipinas, e em setores específicos nos Estados Unidos. No mercado americano, o banco de investimento estava entre os 10 maiores e tem meta de ficar entre os cinco. No Brasil, a aquisição adicionou produtos que tem feito a diferença em volume ou em relacionamento com clientes.
“O market maker foi uma uma adição importante para nós, pois abre portas para outros negócios, nos aproxima das empresas e de clientes, como fundos de pensão”, diz Barros. O banco se tornou o maior market maker da B3 no mercado voluntário, em que ele se aplica como formador de mercado de ações, BDRs e ETFs.
“O CS também tinha uma base forte em opções, o que nos beneficiou nessa integração. Investimos e tivemos um incremento importante em aluguel de ações, e oferecer a plataforma global e local, em termos de estratégia, eu diria que é o principal diferencial”, complementa Marcelo Okura, co-head de global markets na América Latina do UBS BB.
Nos dois produtos, o banco acertou no timing: em BDRs, por exemplo, a demanda no ano passado aumentou com os investidores locais buscando exposição às “Sete Magníficas”, como Microsoft e Nvida, enquanto a mudança brusca na curva de juros aumentou o volume de posições shorteadas no mercado local.
Em global markets, a projeção de crescimento local é mais modesta, na casa de 5%, em função da redução do volume da bolsa brasileira – as gestoras, que são os principais clientes, tiveram queda média de 35% em AUM e os estrangeiros retiraram US$ 31 bilhões do mercado.
Eles notam também a mudança na dinâmica dos investidores na região, quem vinha olhando México agora está de olho na Argentina. A receita de global banking na Argentina e no Chile aumentou 70% no ano passado. “Estamos organizando uma viagem para Argentina com os investidores, estrangeiros e brasileiros, e o interesse é muito grande”, diz Okura.
Eles ressaltam, no entanto, a diferença do porte de mercado. Na terra de Milei, o volume de M&A, por exemplo, subiu de US$ 1 bilhão em 2023 para US$ 3,5 bilhões em 2024 – no Brasil, a média anual é de US$ 25 bilhões. Por falar em M&A, o crescimento de receita do UBS BB no segmento foi de 100% no ano passado, afirma Britto, e deve ficar na casa de 30% neste ano.
Apesar da redução nos últimos meses de operações cross-border e da aparente aversão ao país, o executivo garante que há demanda internacional. “Existe sim apetite para o país. Estamos vendo interesse em múltiplos setores e, nos últimos 30 dias, assinamos contrato para seis transações de M&A com players internacionais que ninguém nunca escutou por aqui, comprando ativos a dois dígitos em relação a Ebitda”, diz Britto.
Na mesa, Barros avalia que o block trade de Vale também é uma demonstração que há interesse para bons ativos, com volume e bom preço. O bloco movimentou cerca de R$ 9 bilhões e atraiu principalmente estrangeiros, muitos deles via UBS BB.
Por mais que haja tensão com juros e inflação, dada a desancoragem mostrada no Boletim Focus, e com as movimentações internacionais – principalmente as tarifações de Donald Trump -, eles ponderam que já houve um ajuste considerável de posições.
“Então tem que tomar cuidado para não manter a precificação do caos ou de que não vai melhorar. O mercado está leve: o volume de recompras no passado foi recorde em número de empresas, os fundos de ações estão pouco alocados, e qualquer catalisador de melhora pode fazer com que o movimento seja rápido”, diz Barros.
Okura emenda que, apesar do baque em PL dos fundos, a performance nos últimos três meses melhorou – com a maioria chegando ou batendo o CDI, o que pode ajudar numa reversão gradual de volume.
Em research, o banco cobria 170 ações e está adicionado 30 empresas. No Brasil, o banco saiu de cerca de 450 funcionários para 1,4 mil em quatro anos, incluindo private banking. A mudança de sede do UBS BB em São Paulo deve acontecer somente em outubro e vai colocar todas as áreas sob Barros num mesmo andar.
Fonte: pipeline
Por: Maria Luíza Filgueiras