Valuation é uma prática que mistura ciência e arte, exigindo tanto rigor técnico quanto uma visão estratégica abrangente. Para o empreendedor de médias empresas brasileiras, entender essa dualidade e aplicá-la ao seu negócio é crucial ao contratar um profissional para realizar a avaliação de sua empresa.
O primeiro passo em qualquer valuation é compreender os objetivos por trás da avaliação. Se o objetivo é uma fusão ou aquisição, o valuation pode enfatizar sinergias potenciais e valor estratégico. Um exemplo é a Lojas Renner, que ao adquirir a Youcom visava não apenas diversificar seu portfólio, mas também capturar um novo segmento de mercado jovem. Para o empreendedor, ter clareza no propósito do valuation ajuda a alinhar as expectativas e escolher a metodologia mais adequada.
A precisão dos dados é outro aspecto crucial. Empresas como a Hering ao serem adquiridas pelo Grupo Soma, precisaram garantir que os dados financeiros, de mercado e operacionais estivessem atualizados e fossem confiáveis, assegurando assim uma avaliação precisa e justa. O empreendedor deve seguir esse exemplo, garantindo que as informações sejam de qualidade, pois isso constrói confiança com investidores ou compradores.
A escolha da metodologia de valuation é igualmente importante. Diferentes negócios exigem abordagens diferentes. Empresas de médio porte, como a Grupo SBF (dona da Centauro), têm um fluxo de caixa mais previsível, o que torna o método de Fluxo de Caixa Descontado (FCD) uma boa escolha. Já para empresas em crescimento, como a Mobly, que atuam em mercados digitais, pode ser mais adequado utilizar métodos baseados em múltiplos de receita, capturando o potencial de crescimento futuro.
Além disso, as condições de mercado impactam diretamente o valor de uma empresa. O Grupo Flytour, atuante no setor de turismo, viu seu valuation ser afetado pela pandemia de COVID-19, que trouxe mudanças drásticas no comportamento do consumidor e na economia global. Para o empreendedor, é essencial contratar um avaliador que compreenda o ambiente macroeconômico e setorial, ajustando o valuation para refletir a realidade do mercado.
Uma abordagem abrangente que considere tanto fatores quantitativos quanto qualitativos é essencial. Empresas de médio porte como a Granado Pharmácias podem ter fatores qualitativos significativos, como sua história e marca forte, que devem ser considerados no valuation, além dos números financeiros. Um valuation que ignore esses intangíveis pode subestimar o verdadeiro valor da empresa.
Outro aspecto crucial é a atualização regular do valuation. Empresas como a BR Malls devem manter valuations atualizados para refletir mudanças constantes no mercado imobiliário e no comportamento dos consumidores. Para o empreendedor, isso significa que é vital revisar regularmente a avaliação para garantir que decisões importantes sejam baseadas em informações atuais.
A independência e objetividade do avaliador são fundamentais para a integridade do valuation. Casos como o da Bombril, que enfrentou crises internas, demonstram a importância de ter um avaliador independente que não esteja influenciado por conflitos de interesse. Para o empreendedor, escolher um avaliador com reputação sólida e independente é crucial.
A transparência no processo de valuation é essencial. Empresas como a BRF precisam manter documentação clara e completa para garantir a confiança dos investidores e facilitar auditorias. Para o empreendedor, isso significa trabalhar com um avaliador que valorize a transparência e documente detalhadamente todas as etapas do processo de valuation.
Em casos complexos, como a fusão da Biosev com a Raízen, revisões externas (Fairness Opinion) podem proporcionar uma camada extra de segurança. Para o empreendedor, buscar uma segunda opinião em transações significativas ajuda a evitar erros e garante que o valuation seja justo para todas as partes envolvidas.
Manter-se informado sobre as regulamentações e práticas atuais no setor é essencial. Mudanças nas normas contábeis ou fiscais, como aquelas exigidas pelo CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), podem impactar diretamente o valuation. Para o empreendedor brasileiro, estar atento às regulamentações do Banco Central do Brasil e da CVM é fundamental para garantir a conformidade do valuation com as normas legais.
Por fim, o sentimento do mercado pode ter um impacto significativo no valuation. A entrada da Méliuz na Bolsa de Valores é um exemplo de como o entusiasmo dos investidores pode influenciar o valuation de uma empresa, superando as expectativas iniciais. Como empreendedor, é importante considerar como o mercado percebe sua empresa e trabalhar com um avaliador que leve esses fatores em conta, para maximizar o valor durante a captação de recursos ou venda.
Ao contratar um valuation, o empreendedor deve focar em critérios como a reputação do avaliador, sua experiência no setor, a independência e objetividade, a metodologia utilizada, a transparência no processo e o custo-benefício. Um valuation bem conduzido não só define um valor justo para o negócio, mas também oferece insights valiosos para tomadas de decisão estratégicas.
Lembre-se, cada empresa tem suas próprias peculiaridades e especificidades, tendo em vista o mercado que atua, comportamento dos sócios e governança.
Manoel Quintino Junior – especialista em gestão financeira, M&A, turnaround, captação de recursos, private equity, F&A. Formado em Administração de Empresas, especializado em Gestão Empresarial e mestre em Finanças, Estratégia e Mercado. Conselheiro de empresas familiares. Carreira profissional de mais de 20 anos de experiência, desenvolvida em empresas de médio e grande porte nos segmentos de construção civil, indústria da confecção, tecnologia, telecomunicações, internet e comércio varejista. Ocupou no mercado as posições executivas de Superintendente AD, CFO e Diretor Executivo. Sócio da Four+ Investment Banking, Isanex – Platform of M&A to Startups e da Four+ Academy.
Fonte: Four+ Academy
Por: Manoel Quintino Junior